Breu-branco é usado em cosméticos e perfumes e tem propriedades medicinais
29/01/2025
Árvores da Amazônia com mesmo nome popular fornecem matéria-prima para produtos de uso pessoal. População ribeirinha utiliza espécies há muitos anos. Breu-branco é usado em cosméticos e perfumes e tem propriedades medicinais
Acervo TG
Uma raiz na indústria de cosméticos; outra na medicina caseira; e uma terceira para ajudar no dia a dia das pessoas, principalmente indígenas e moradores da Amazônia. Assim é uma árvore versátil, com centenas de espécies, dezenas de gêneros e nomes populares, mais conhecida por breu-branco. À primeira vista, uma árvore como tantas outras, com 10 a 20 metros de altura. Mais de perto, uma identificação, inconfundível: uma resina de aspecto esbranquiçado que sai do tronco como um suor. É a exsudação, gota a gota.
A árvore é de uma grande família, espalhada por todo o mundo. No Brasil, prevalece o gênero Protium que, só na Amazônia, tem 90 espécies. É tanta variedade que os maiores especialistas do Laboratório de Plantas Medicinais e Derivados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Rio de Janeiro, afirmam que as espécies de Protium são de difícil identificação botânica, principalmente fora da floração, podendo ser confundidas com outras espécies.
Segundo o Museu da Amazônia, o breu-branco é uma árvore da família das Burseráceas, e também é conhecido como almecegueira. “O cheiro da resina transparente que brota da casca é uma experiência única, e quando os óleos essenciais evaporam ela cristaliza na forma de pedras e pó brancos. Algumas moedas de resina, com rostos entalhados, foram encontrados em sítios arqueológicos maias. Isso sugere que o breu-branco seja conhecido e utilizado pelo homem americano há mais de mil anos”, detalha o material do museu.
Substância que sai do tronco é usada na produção de óleos essenciais
Amazonoil
Na Amazônia, a tradição oral entre indígenas e ribeirinhos e o conhecimento prático dos coletores garante o amplo uso do breu-branco na medicina caseira como analgésico, cicatrizante, anti-inflamatório e expectorante. Em algumas aldeias a fumaça da resina queimada é aspirada como descongestionante nasal e contra a dor de cabeça.
Os estudos em laboratório descobriram propriedades medicinais do óleo essencial das folhas e dos frutos da espécie P. heptaphyllum, a mais comum no Brasil. Entre as propriedades, a atividade hepatoprotetora, isto é, de defesa das funções do fígado, e o efeito antipruriginoso que pode ser útil no tratamento de coceiras e pruridos derivados de alergias, eczemas e dermatites.
Não só na farmacinha caseira o breu-branco faz parte da vida dos amazônidas. Algumas populações como a dos indígenas Tembé, do Pará, usam a madeira para construir casas, fazem canoas com o tronco e calafetam com a própria resina. A madeira do breu-branco é versátil, sendo empregada em marcenaria, carpintaria, móveis populares, caixotaria, carvão, entalhes, esquadrias, lambris, mourões, cabos de vassoura, entre outras utilidades.
Madeira do breu-branco é usada na produção de móveis
Tarciso Leão/iNaturalist
É comum queimar a resina para espantar pernilongo e outros insetos, para defumar ocas e casas e em rituais místicos. Em cidades do interior, na região Amazônica, padres usam a resina no lugar do incenso nas cerimônias litúrgicas da Igreja Católica.
O breu-branco é importante também para o meio ambiente. Conforme a espécie e o tamanho, a árvore é indicada para a restauração de matas ciliares e como cerca-viva. Os frutos, de sabor agridoce, são disputados por aves e pelos tracajás – uma espécie de tartaruga amazônica. Há relato na literatura do uso de frutos de espécies do Protium por indígenas na sua própria alimentação e na alimentação de animais caçados por eles.
A árvore pode ser encontrada em várias regiões do Brasil, mas só onde há mata nativa bem preservada. Por não tolerar o desmatamento pode ser considerada um bio-indicador do estado de conservação do ambiente.
Indústria de cosméticos
É pela indústria de cosméticos que o breu-branco traz o frescor da floresta para dentro de nossas casas e para nossos corpos. O óleo essencial é matéria-prima de três produtos: uma fragrância para uso diário; outra marcante, de longa duração; e uma água de banho, de fragrância leve, como desodorante corporal.
Na época em que o óleo do breu-branco começou a ser utilizado por empresas do ramo cosmético ele foi classificado como “fundamental para se chegar a uma fragrância inédita na perfumaria mundial”: O extrato do breu-branco possui características únicas, que trazem a riqueza de notas resinosas e canforadas que resgatam o frescor da floresta.
Breu-branco é matéria-prima para produção de cosméticos
Ivcs/iNaturalist
A resina do breu-branco é fornecida in natura para ser processada e purificada na indústria. Este procedimento se faz necessário em função de que a resina encontrada na floresta contém impurezas como terra, folha e alguns materiais insolúveis que podem precipitar dentro dos frascos de perfume.
A preocupação com a sustentabilidade se estende de ponta a ponta, dos coletores da resina na floresta ao consumidor, cada vez mais consciente da necessidade de escolher produtos “verdes”, ecologicamente corretos. O maior risco para a espécie é a extração madeireira, se feita sem um plano de manejo, mas para isso a disponibilidade da natureza deveria ser alta. A exploração da resina exsudada de forma natural não traz nenhum risco à espécie.
Uma grande família
A família Burseraceae, da qual faz parte o breu-branco, espalha-se pelo mundo com 18 gêneros e 600 espécies. Só na América Tropical são 200 espécies de 6 gêneros ((Bursera, Crepidospermum, Dacryodes, Protium, Tetragastris e Trattinickia).
Na América do Sul, o principal gênero é o Protium, abundantemente representado na Bacia Amazônica com 90 espécies
Marcondes Oliveira/iNaturalist
Na América do Sul, o principal gênero é o Protium, abundantemente representado na Bacia Amazônica com 90 espécies. As várias espécies de breu-branco se espalham pelo Brasil de Minas Gerais em direção ao Norte e Nordeste.
Outros gêneros importantes da família Burseraceae:
Boswellia - produz uma resina aromática, principalmente na Arábia.
Aucoumea klaineana (Okoumé) - uma das madeiras mais importantes da África ocidental. É encontrada no Gabão, no Congo e na Guiné hispânica e usada na Europa para compensado e caixa de charuto.
Commiphora - produz goma de resina aromática usada em perfumes. Encontrado na Índia, África Oriental e Arábia.
Muitos nomes populares
As árvores das diversas espécies do gênero Protium, no Brasil, colecionam nomes populares que podem chegar a 50, segundo alguns pesquisadores. Confira algumas:
Fruto da espécie Protium heptaphyllum, também conhecida como breu-branco
Leandro Cardoso/iNaturalist
Breu, breu-branco, breu-branco-verdadeiro, cicantaa-ihua, almecegueira, breu-branco-do-campo, breu- preto, pau-de-mosquito, almescla, amescla, incenso, almecega, almesca, almécega-doBrasil, foma-limão, almécega-brava, almécega-cheirosa, aimescia, breu-almécega, elemi, elemieira, ibiracica, pau-de-breu, tacai-maci, almíscar, animé, árvore-do-incenso, erva-feiticeira, icariba, curacal, tacamahaco, haiawa, kurokai, ulu, encens-gris, gommier.
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