Abelhas fazem colmeia em escapamento de carro no ES
29/01/2025
Responsáveis decidiram deixar o carro parado para trocar o equipamento e permitir todo o processo dos insetos; espécie nativa sem ferrão escolhe fazer ninhos, geralmente, em buracos em troncos. Abelhas fazem colmeia em escapamento de carro no ES
Uma cena inusitada surpreendeu recentemente o fotógrafo de natureza e mestre em conservação da biodiversidade Leonardo Merçon quando ele e alguns colegas saíam para uma ação ambiental na Ilha do Boi, em Vitória (ES), no último dia 12. Os profissionais do Instituto “Últimos Refúgios”, que trabalham com sensibilização ambiental, se depararam com abelhas jataí (Tetragonisca angustula ) fazendo uma colmeia no escapamento do carro da ONG, parado na sede da organização.
Leonardo conta que o veículo não era usado há apenas dois dias e que se ligasse o carro as abelhas morreriam. “Nunca tinha visto nada igual, por isso decidi deixar o carro parado para buscar uma solução”, explica o ambientalista que sabe que as abelhas-sem-ferrão, como a jataí, são essenciais para a natureza.
A alternativa foi chamar o amigo Vieira da Mota, que é meliponicultor, profissional que trabalha com abelhas sem-ferrão, para traçar uma estratégia. A ideia inicial seria trocar o escapamento e deixar as abelhas se desenvolvendo em outro local. Entretanto, o especialista orientou que ainda era muito cedo e havia o risco da colmeia não se desenvolver corretamente. Por esse motivo, eles decidiram esperar mais uns dias para aí sim realizar essa “troca”.
“Optamos pelo mais difícil, mas também pelo que achamos mais coerente com nossos ideais: buscar ajuda para salvar as abelhas optando pela troca do escapamento no momento correto”, diz Merçon, que postou toda a história nas redes sociais.
Abelhas jataís construíram colmeia em escamento em apenas dois dias
Leonardo Merçon
Algumas pessoas se preocuparam com o risco de contaminação das abelhas devido ao contato com o escapamento, entretanto há um cuidado especial por parte das abelhas na hora da construção do novo ninho.
“Inicialmente, essas abelhas começam fechando e higienizando o espaço, protegendo de forma asséptica com geoprópolis (mistura de barro e própolis) e própolis”, explica o meliponicultor.
A troca do escapamento para garantir que a colmeia siga em segurança será feita assim que os especialistas avaliarem que as abelhas já estão “instaladas” no novo endereço.
Nova casa
Ao contrário do que acontece com as “apis”, nas abelhas sem ferrão a rainha nunca abandona sua “casa”. O surgimento de uma nova colmeia se dá quando algumas princesas saem para uma delas se tornar rainha. É nesse momento que vemos enxames formando novas colônias.
“Não é uma mudança, mas sim, parte das abelhas que estão nascendo e saem para formar novas colmeias”, explica Mota.
Saboroso, o mel de abelha jataí possui uma ação antibacteriana superior a do mel comum
Sidney Cardoso/VC no TG
Segundo ele, nas abelhas sem ferrão a rainha não sai do ninho porque, após a postura dos ovos, seu abdômen chega a aumentar de 6 a 7 vezes, o que impossibilita a passagem dela pela entrada da colmeia. Além disso, suas asas não aumentam de tamanho ou até mesmo se deterioram com os anos, o que a faz perder totalmente a capacidade de voar. “Quando acontece uma queimada na mata, por exemplo, o enxame inteiro morre, pois elas não abandonam a rainha. Nas apis, a rainha voa e coloca todo o enxame em segurança”, detalha o especialista.
Construção do ninho
Depois que as abelhas campeiras saem em busca de um novo local e começam a fazer a colmeia à pedido da rainha, é realizada a higienização do local e logo em seguida, como conta o especialista, se inicia a construção do invólucro que irá proteger os discos de postura, para manutenção de uma temperatura e nível de umidade necessários para a eclosão dos ovos da espécie. Durante esse processo, há um transporte de cera e alimentos do “ninho mãe” para o novo.
Abelha sem ferrão da espécie jataí 'vigiando' colmeia
Lílian Marques/ G1
Nesta etapa, de acordo com Mota, os machos prontos para copular, cercam e entrada da nova colmeia aguardando a chegada de uma ou mais princesas para, com uma única copula, a tornarem a nova rainha.
A nova rainha entrará no ninho e entre 12 e 15 dias, vai desenvolver o seu abdômen e a bolsa espermática que lhe vão permitir colocar ovos em todo o seu tempo de vida.
“As novas colônias continuam durante alguns meses a usar um habito da raça humana, que é quando nos tornamos independentes ou casamos, durante muito tempo ainda continuamos a ir em casa dos nossos pais, buscar alguns benefícios como alimentos e outros, o que acontece também com as abelhas nativas, buscando cera e alimentos para o novo ninho”, diz.
A quantidade de abelhas numa colônia de abelhas nativas varia muito de espécie para espécie, mas, no caso da Jataí, pode ter de dois mil a cinco mil indivíduos.
Rainha, princesas, machos e campeiras (operárias)
“Em cada disco de postura, calcula-se que a rainha, de forma genérica, coloca um percentual de cerca de 15% de princesas, 10 a 15% de machos e o restante de campeiras”, explica o meliponicultor .
A abelha jataí é uma das espécies sem ferrão encontradas no Brasil
Getty Images
Ele esclarece que as campeiras são provenientes de ovos fecundados, os machos por ovos não fecundados, e as princesas, conforme as espécies, são provenientes de alterações genéticas ou alimentadas com mais quantidade de alimento (papa larval).
As campeiras ou operárias vivem em média 40 a 52 dias, a rainha de 3 a 4 anos e os machos morrem pouco depois da cópula.
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